22 fevereiro, 2013

Sonambulismo – mitos e verdades










Quando o assunto é sono de qualidade, o sonambulismo não é a maior reclamação dos brasileiros, mas está entre as principais.
Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) comparou a qualidade do sono em três décadas diferentes – 1987, 1995 e 2007 – e identificou que o índice de insatisfação cresceu ao longo desses anos.

As reclamações de sonambulismo, que representavam cerca de 1% em 87 e 95, passaram para 2,8% em 2007, quase o triplo.

A primeira etapa ao falar desse distúrbio do sono é definir o problema. Sabe aquele dia em que você acordou dando chutes porque estava sonhando que fugia de um ladrão? Isso não é sonambulismo.

“A característica desse distúrbio é sentar-se na cama ou caminhar enquanto dorme num período de sono não REM. A pessoa não tem sonhos, não tem lembranças. Quando acorda pulando, achando que é o goleiro da seleção, ela tem transtorno do comportamento do sono REM”, explicita Dirceu de Campos Valadares Neto, presidente da Fundação Nacional do Sono (Funda sono), de Minas Gerais.

O problema atinge apenas 1% da população adulta mundial e é mais freqüente até a adolescência. Em torno de 40% das crianças até 5 anos tem crises, o número cai para 30% na puberdade e para 15% da adolescência. Para lidar com o problema, perguntamos a alguns especialistas sobre os principais mitos do sonambulismo. Tire suas dúvidas.

O sonâmbulo pode ser acordado?
Não há perigo em acordar alguém nesse momento, no entanto, é preciso cuidado. “A pessoa acha que está dormindo, então, se for acordada, pode se assustar. O melhor é não fazer nada, até para não quebrar o sono”, recomenda a pediatra Márcia Pradella-Hallinan, médica do Instituto do Sono, de São Paulo. Paciência também é aconselhável, já que uma crise de sonambulismo dura em média cinco minutos.

O que fazer quando um sonâmbulo caminha?
Simplesmente proteja a pessoa e tente encaminhá-la gentilmente de volta para o quarto. Para evitar acidentes, os especialistas recomendam colocar redes de proteção ou cadeado nas janelas, não deixar objetos pontiagudos em locais de fácil acesso e bloquear acesso a escadas.

A pessoa pode responder perguntas e revelar segredos?
Puro folclore. Em geral, as frases ditas durante o sono são, em sua maior parte, ininteligíveis e não estão necessariamente relacionadas com a realidade. “Com as crianças, em geral há referência a alguma coisa que elas vivenciaram naquele dia”, afirma a pediatra do Instituto do Sono. Para o especialista da Funda sono, o automatismo do momento faz com que o conteúdo não tenha sentido. “As frases podem estar desvinculadas da realidade.”

Sonambulismo passa?
O sonambulismo está associado à maturação dos mecanismos do sono, quando o organismo ainda não aprendeu a fazer a passagem entre sonho e não-sonho de maneira natural. Conforme o sistema nervoso central vai amadurecendo, o problema vai desaparecendo, por isso é mais comum em crianças.

No entanto, é possível que adultos apresentem o problema temporariamente. “Pode aparecer no adulto quando ele se sente ameaçado, sob estresse, ou está tomando determinados medicamentos. Ou ainda quando tem problemas do sono, como a apneia”, relata o presidente da Funda sono. Se o problema persistir por um longo tempo, é necessário fazer um exame chamado polis sonografia, que vai avaliar o sono da pessoa e tentar identificar o que pode estar favorecendo o sonambulismo.

A qualidade do sono é prejudicada?
Como o sonâmbulo não acorda, não há prejuízo para o sono. E as crises não devem ser tão constantes a ponto de atrapalhar a noite. Porém, se o caso for freqüente – toda semana – e estiver dificultando o sono da família ou da pessoa existem recursos a serem aplicados.

Sonambulismo tem cura?
Existe tratamento. O passo inicial para a resolução do sonambulismo está em uma boa consulta com um especialista no assunto. Por meio primeiramente de um exame clínico, o médico vai avaliar se a pessoa está passando por algum estresse ou se há outro fator externo influenciando o sono. Depois, pode pedir a polis sonografia. “É importante saber quais são as condições e atenuar os comportamentos que podem causar o problema. É preciso avaliar com que freqüência ocorre e quais são os riscos a que ela está sujeita. Dependendo do caso, não há razão para fazer tratamento”, afirma Valladares Neto.

Se for o caso de tratamento, um dos recursos é a medicação. “Existe uma medicação que estabiliza o sono. Em geral, utiliza-se em torno de três a seis meses e, quando o medicamento é retirado, a pessoa não volta a ter crises de sonambulismo”, relata Márcia.